sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Saterê e o paraíso...

Maués (AM), abril de 1999.
De manhãzinha, estávamos embarcando no Dorinho (barco da base da ag. missionária), já não existe mais, afundou...) pra conhecer e trabalhar na Tribo Saterê. Tudo parecia mágico. Navegamos por um tempo suficiente pra conhecer e admirar as paisagens maravilhosas existentes ali.
Uma natureza simplesmente rica e mágica.
Ao chegarmos na margem, onde ficava a tribo, algumas crianças indígenas vieram nos receber curiosas com os "caras pálidas" que chegavam. Muitas delas, não falavam nossa língua ainda, mas os adultos, sim. Principalmente, o pajé.
Passamos o dia com eles. Brincamos com as crianças, conhecemos o lugar em que dormiam, faziam suas reuniões, mas não conhecemos o banheiro...
Por falar em banheiro, tá aí um pequeno desespero que passamos. Eles sumiam diante de suas necessidades... já nós... Bem, é melhor pular essa parte.
À noite já chegava e o céu revelava um espetáculo desconhecido para os moradores da Selva de Pedra. Aquela tinta óleo usada no céu não se vende em terra!
Vislumbrei um vulto de um pescador e um boto pulando ao seu redor, a emoção tomou conta de mim; não haviam palavras pra descrever o que meus olhos viam, só as lágrimas insistiam em dançar pelo solo da face.
O pajé nos convidou à fazer apresentação de danças e dramas pra toda tribo e prontamente nos arrumamos. Mas um problema surgiu: "O que poderíamos apresentar já que nossos temas eram voltados pra sociedade 'comum'?" Foi decidido então, apresentar um drama infantil que falava sobre as escolhas que fazemos e suas consequências. Geralmente, nos divertíamos muito quando a representávamos, mas não tínhamos idéia do quanto seria impactante na vida dos indígenas.
Como não havia energia elétrica na tribo, fizemos o drama falado (sem ensaio, só na improvisação). O drama "A Cadeira" pode ser bobinho pra nós da sociedade comum e ter só a atenção das crianças, mas o que vimos ali, foi algo que nos chamou muito à atenção. Durante toda a apresentação, as crianças não piscavam os olhos e riam diante das "palhaçadas", mas o pajé ficou parado, sem reação. Quando terminamos de apresentar, o pajé pediu a palavra e começou a chorar. Chorar compulsivamente, porque ele tinha entendido o que Deus estava querendo falar com ele. E ele pediu pra que todos da tribo se colocassem diante de Deus e pedissem perdão pelos seus pecados. Fiquei impactada. Não podia imaginar que uma peça tão simples e apresentada durante tantas vezes por nós, poderia causar tamanho abalo numa tribo. Assim que pediram perdão à Deus, houve uma festa de celebração. Ficamos durante umas 4 horas, cantando uma mesma música com eles. Eles dançavam com seus passos simples (pra frente e pra trás) e ao repetir a música, chamavam pelo nome de cada um da tribo (acho que deu pra entender porque demorou tanto cantar uma única canção, não é mesmo?). Dormimos por lá e no outro dia, ao nos despedir, vimos o quanto à nossa ida até ali os abençoou e ouvimos um pedido que mexeu muito com nossos corações: "Por favor, enviem pastores aqui que possam nos ajudar à chegar mais perto de Deus!" - disse o pajé.
Chaguinha, um dos índios da tribo, faz parte da base, é ele quem está ajudando a sua tribo à ter um encontro com Deus e nos agradeceu por podermos abençoar a sua tribo com a nossa presença e apresentação.
O que me marcou nessa viagem que durou 2 dias (na tribo), foi o simples fato de que o evangelho é muito simples e profundo, nós e que somos complicados e cheios de superficialidade.
Que Deus nos abençoe e tenha misericórdia de nós.

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