quarta-feira, 26 de maio de 2010

Viagem de trem

Sempre quando vou pra capital, vou de trem...
Não é uma viagem muito agradável: o trem está sempre sujo, segue muito devagar e me deixa, algumas vezes, com mal-estar de tanto que chacoalha...
O trem não leva só pessoas. O trem leva histórias...
Nesses dias, enquanto viajava fiquei observando os rostos que comigo partilhavam o mesmo ambiente. Trabalhadores, estudantes, crianças... olhares vazios, alguns em pleno flerte, outros ouvindo uma música, outros lendo e eu observando.
Um pouco distante de onde estava chamou-me a atenção um rapaz que atendia o celular e no tom apreensivo começou à reclamar:
-" Tia! Por que vocês não me avisaram quando aconteceu... Vocês não podiam ter feito isso comigo..."
E este rapaz começou à chorar. Acabara de receber a notícia da morte de sua mãe.
Fiquei angustiada ao ver a situação daquele moço. Ele tentava segurar o choro mas este era mais forte que ele. Olhava pra janela buscando o céu mas os seus olhos se perderam com o transbordar das lágrimas que já não cabiam dentro de si.
Fiquei angustiada ao ver que ao lado deste que tanto sofria haviam pessoas que com tamanha diferença, continuavam rindo e conversando como se o que se passava bem ao seu lado não tivesse importância ou algum peso.
Nessas horas, lembro dos ensinamentos dos meus pais...
Quando alguém perdia um ente-querido não tocávamos música em casa, não demonstravámos nenhuma alegria na hora da dor de quem nos cercava... A dor do outro era a nossa!
Mas, ali naquele trem ninguém parecia se importar. Me deu vontade de chorar, mal conseguia olhar pro rapaz que cobria a cabeça com o capuz como se isso pudesse torná-lo invisível ali.
Queria ter ido até ele e dito: "Moço, meus sentimentos..." - mas sei que nessas horas palavras não surtem efeito.
Não. Não fui indiferente. Embora me sentisse totalmente incapacitada de fazer alguma coisa um pedaço daquela dor me atingiu.
Quem nunca sofreu uma perda?...
Durante toda a viagem fiquei me questionando sobre a minha postura diante de tal situação. Deveria chamar a atenção dos que estavam ao lado do rapaz pra pedir que o respeitassem? Deveria me aproximar e dizer: "Moço, Deus consolará seu coração?"
Deveria evitar observá-lo e fingir que nada acontecia?
Mas não me contive e fiz. Fiz uma prece silenciosa pedindo à Deus que é o nosso Consolador Fiel que abraçasse aquele moço e alentasse a dor que lhe abatera no peito.
Talvez, não tenha feito nada de importante à vista de quem ali estava mas sei que Deus viu e sentiu o que eu sentia ali.
Deus nos abençoe!

8 comentários:

  1. Lindo Tianinha, isso me faz lembrar o dia em que minha esposa perdeu um tio muito querido, nestas horas o poder devastador da religião faz com que a dor aumente, quando na verdade o verdadeiro consolo está em sertar-se ao lado de quem chorar e ficar no silêncio absoluto por ela.

    Nesta ocasião escrevi isso.
    http://descansodaalma.blogspot.com/2010/02/e-o-reves-de-um-parto.html
    e esse poema
    http://mangaepoesia.blogspot.com/2009/11/lagrimas-de-oracoes.html

    Maravilhoso
    Beijos

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  2. Contrastes, acasos! São momentos imprevisíveis.
    É agradável pensar que poderia existir uma vida perfeita sem dores, choros, decepções etc, mas vivemos sujeitos a tudo e em todo lugar, e dizendo isso me refiro desde a causa alheia, até àquilo que nos afeta diretamente. O convite em tais circunstâncias é para que vivamos intensamente, pois certamente tal ocorrido nos levará a um encontro e este pode ser a melhor vivência de todas. A pergunta volta para o questionador. Onde você está Deus? Não, já não é mais isso que nos sacia, mas... onde eu estou? Estar em um lugar de diálogo no mundo, é um fato de realização que nos aproxima da verdade!

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  3. Tininha, adorei o texto, não tinha como não comentar, pq ontem mesmo eu e Dani pegamos um trem e ficamos conversando extamente das histórias de vida que encontraríamos se conversássemos com alguns daqueles passageiros... Legal saber que vc esteve no trem e sem nenhum diálogo conseguiu perceber tantas coisas a respeito de uma das pessoas.
    Um abraço!!

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  4. Me emocionei muito com seu texto. Sei bem o que é sentir tanta dor que parece que a alma está sendo arracanda e as pessoas envolta não darem a mínima. Nessa caso, a dor é dupla.
    O mais indicado é entregar tudo à Deus. Só Ele pode nos consolar em um momento como esse...
    Bjo pra vc, querida!

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  5. Como sempre, acho incríveis suas postagens!

    Nesses momentos tão difíceis, somente o afago de Deus para nos confortar.

    Mas Ele está sempre ao nosso lado, nos confortando, em qualquer situação que seja!

    Beijos!

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  6. Tianinha, é um imenso prazer conhecer este seu espaço abençoado e já vou ficando. Seu texto é maravilhoso. Beijo no coração.

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