segunda-feira, 28 de junho de 2010

Os pés descalços de um doutor!

O sol desponta os seus primeiros raios de um novo amanhecer e lá está ele, com seu cabelo negro lavado com a água do rio e repartido de lado, seus olhos graúdos e profundos, seu sorriso banguelo e inocente, sua camisa faltando um botão, sua bermuda com pequenos retalhos e os pés descalços. Sua pele queimada, tingida pela tinta do trabalho árduo ao ar livre.
Preparou o um punhado de farinha com pequenos pedaços de mandioca e deu à seus seis irmãos menores. Seus pais haviam ido trabalhar antes do sol nascer, pegando o pequeno bote e atravessando o rio pra trabalhar na terra e assim, ter uma fonte pra alimentar seus filhos.
Pegou seu caderno, lápis e um pedaço de borracha, beijou seus irmãos, fechou a porta e foi caminhar alguns quilometros até chegar à sua escola. Não havia um transporte sequer que chegasse perto de seu casebre e o levasse à escola. A maioria das crianças de sua idade tinham parado de estudar por não suportarem caminhar tanto tempo e ao chegar em sala de aula, dormirem de tão cansados. Quem os culparia?
Não tinham nada, até seus pequenos sonhos corriam riscos de sobreviver no meio de tantas precariedades.
Depois de quase uma hora e meia debaixo de sol quente ou de uma chuva forte, pisando na terra vermelha com alguns pedregulhos machucando seus pés, sentava na cadeira enferrujada da escola e derramava a sua atenção a tudo que a professora ensinava. À tarde, ia ao encontro dos pais pra trabalhar na lavoura. Ele amava a aquarela que o Criador, todos os dias, pintava no céu; pisava na terra fofa e com cuidado plantava as sementes e junto com elas seu sonho. Toda vez, que uma de suas sementes despontavam pra vida, ele tinha a certeza que seu sonho também sobreviveria às dificuldades que vivia.
Um dia perguntaram-no: "Menino, qual é o seu sonho?" e ele com os olhos brilhando, respondia: "Meu sonho é ser doutor!"
Quando escutavam o que o pobre menino dizia, muitos davam risadas e balançavam a cabeça dizendo uns aos outros: "Que chances esse pobre tem?" - Como se sonhos fossem contos de fadas e a realização uma ilusão descabida.
Seus seis irmãos, se juntavam com os vizinhos que moravam um pouco distante de seu casebre e o achavam sonhador demais. Como era triste sonhar sozinho, não ter com quem partilhar...
Ele tinha um sonho e não importava com o que as pessoas pensavam. Ele tinha a certeza de que seu sonho se tornaria realidade. Batalharia o quanto fosse necessário para ajudar à quem precisasse.
Se tornou homem e foi pra cidade grande com alguns trocados no bolso e muita disposição pra trabalhar. Muitas vezes, usado como tapete por seus patrões mas respeitado por quem o conhecia na labuta do dia-à-dia, nos tijolos colocados artisticamente em cada construção que fazia.
Em quase todas as noites, seu travesseiro se transformou em um pequeno lago de lágrimas quando se recordava com saudades de sua casa no meio do nada e de sua família sem recursos para viver, mas sabia que pra alcançar o seu alvo as lágrimas eram fundamentais pra dar base ao que ele construiria em sua vida.
E a recompensa de seu esforçou não falhou, embora parecesse tardia...
Ao receber o diploma em suas mãos, suas lágrimas dançaram pela face acompanhadas de um sorriso que mal cabia em seus lábios. Seus pais orgulhosos, vestidos com as roupas que o filho recém-formado acabara de os presentear e seus irmãos admirados e amedrontados com a cidade grande e curiosos com o pedaço de papel nas mãos do irmão o fitaram por um instante e num sussurro leve ouviu alguém pronunciar: "Parabéns, doutor!" - sua mãe o abraçou como um dia o abraçara quando menino.
Mas do que um médico foi um amigo dos mais necessitados. Não cobrava por seus serviços pois o salário era o bem-estar de sua comunidade. A gratidão de seus "pacientes" sempre era demonstrada com presentes simples: um frango vivo, um pedaço de tecido, um creme dental...
Ele, o doutor, menino sonhador, viveu seus dias cumprindo o seu chamado de servir um povo esquecido e pobre com o seu sonho que um dia fora tão desacreditado, o sonho de ser "doutor" cuidando de gente esquecida e abandonada, não só na área da saúde mas na emocional. Dedicando-se à vida humana e compartilhando sua vida no desejo de enxertar na vida de quem atendia à gana de viver com dignidade e a busca da realização de seus sonhos.
"Pode até tardar, mas quem luta sem olhar pra trás e dando um passo de cada vez, chega ao seu destino..." - sorria ao olhar nos olhos de seus pacientes e afirmava: "Ah! Chega!"
Deus nos abençoe!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Amizade, uma faceta do amor!

Se há um momento em que o céu fica cinza, as flores perdem o seu perfume, os pássaros silenciam, as borboletas abortam suas cores e a vida se torna uma paisagem em duas tonalidades: preto e branco, é quando percebo que a dor que um amigo traz no peito já não lhe cabe mais.
Sua dor é minha dor.
Suas lágrimas são minhas.
Quem pensa que na amizade há ausência de amor, nunca soube o que é ter um amigo de verdade.

"Em todo tempo ama o amigo e na angústia nasce o irmão!" - Pv. 17:7

Ser amigo é buscar carregar o peso que está sobre os ombros do amigo que mal consegue caminhar e assim tornar o seu fardo mais leve e com ele caminhar milhas e milhas até ele chegar em seu porto seguro.

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Um texto meu no blog do meu amigo poeta: Thiago Azevedo

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Desejo de ser borboleta...

"Será que a borboleta sente falta do casulo?" - pensei no momento em que o cansaço era o cobertor sobre mim... Tem dias que queremos nos esconder, ficar quietos... Procurar um lugar vazio, mas aconchegante; colocar uma música suave e adormecer só pra tirar o peso da agitação, da correria, da fadiga... Então, pensei na borboleta... Se esforça tanto, luta tanto pra sair do casulo... Tanta luta pra tornar suas asas frágeis, fortes! Tanta luta pra voar em jardins, conduzida pelo aroma das flores, por suas cores diversas,... Tanta luta pra sentir o calor do sol que mesmo no inverno, ainda esparrama pelo ar o seu abraço que aquece... Tanta luta pra voar sem limites... Borboleta dorme? Será que a borboleta sente o desejo de se esconder no jardim e ficar ali, parada, refugiada na quietude em busca de uma renovação? É, eu sei... as borboletas não são águias... Elas não trocam suas penas quando envelhecem, nem batem seu bico contra a rocha pra que nasça outro, não afiam suas garras nas pedras... Não, as borboletas não fazem isso... Elas voam, descansam entre uma rosa e outra e batem suas asas levemente, delicadamente... Dançam e não parecem se cansar... Os pássaros ainda repousam suas asas no vento... As borboletas não... Os pássaros tem um ninho pra descansar... As borboletas não... É, talvez as borboletas não sentem falta do casulo porque seu tempo é curto e elas querem aproveitar tudo... Já os pássaros sempre tem onde repousar; o ninho estará sempre pronto para os receber... Pobres borboletas! Será? Não! São vivas, são lindas, são graciosas e ternas... Queria ser uma borboleta por um pequeno instante, até recobrar as forças que se foram ao longo do dia. Mas, talvez, o Criador me convide à ser como a águia... O cansaço envelheceu minhas forças... Então, vou ao monte mais alto e desnudo minha'lma... O cansaço roubou meu prazer de continuar na caminhada... Então, lanço meu coração na rocha... O cansaço furtou minha esperança... Então, rasgo o que sou e corro pra cruz... No desejo de ser uma borboleta permito ser amarrada e levado ao holocausto e ao passar pelo fogo ter minhas novas asas e voar pelo jardim da vida... Deus nos abençoe...

terça-feira, 8 de junho de 2010

Desafiada pelos sonhos...

Fico imaginando uma criança que nunca viu o mar...
Enquanto ela sonha ao ver a imagem de uma praia na tv é fácil perceber em seus olhinhos o desejo de estar ali e tocar naquela água que tem vida própria ao dançar no vai e vem, um pra cá, um pra lá...
Os sonhos são sementes lançados no solo do coração e gerados no ventre do tempo...
Como no outono, as sementes vivem o toque do romantismo onde folhas em tons pastéis espalhadas delicadamente no chão formam o caminho à se trilhar dando passos pequenos sobre a ponte que cobre o rio e nos leva até o outro lado onde nos aguarda a realização com um céu alaranjado com mesclas de vermelho, lilás e azul...
Mas como em todo romance as lágrimas são presentes na história. Há momentos que olhamos pra pequena semente e percebemos o quão frágeis são, pequeninas demais...
É muito fácil acreditar que sonhos só são sonhos e nada mais. Que são só uma imagem de tv, real na tela mas irreal ao nosso toque.
Então, os sonhos começam à chutar a barriga do tempo dando sinal de vida: "ei, estou aqui!" - e com este pontapé sentimos que logo irá nascer.

"O maior desafio não é gerar um sonho é ser desafiada por ele pra que se torne real."

Imagino a criança que nunca viu o mar e quando recebe o convite pra conhecê-lo fica perplexa e imóvel diante do gigante vivo que a convida à pisá-lo e sentir suas carícias molhando-a com toda sede. A criança ali, pequena, indefesa, diante do assustador e imenso mar aceita o desafio e toca as pontinhas dos pés nas suas mãos umidas.
Nossos sonhos são assim...
São desafiadores, verdadeiros gigantes, aos nossos olhos inatingíveis, inalcançavéis, impossíveis. Menosprezamos a força da realização, rejeitamos a dor do parto, nos angustiamos com a possibilidade de um aborto...

"Pra dar vida ao sonho é necessário aceitar os desafios e correr riscos."

Não, não é fácil. O medo existe e a coragem só se torna possível com a existência desse temor.
Realizar é ousar, acreditar, arriscar, é vencer o medo de errar mesmo sabendo que errar faz parte!
E o sonho já não é mais sonho é a realidade. É palpável e está vivo.
Consegue ouvir o chorinho?
A realidade bebe o leite dos seios da vida e é acariciado com o toque das mãos do contentamento.
A criança não vai conhecer o mar sozinha.
Nossos sonhos só se realizam porque há quem nos leve à sua realização, que nos faz caminhar a trilha que nos leva ao seu destino.
Parceiros que acreditam em nossos sonhos até mesmo mais do que nós.
E diante do gigante sonho estou. Desafiada por ele.
Aceitei encará-lo porque há amigos comigo que fazem com que eu acredite que é possível ir até o fim...
Agradeço ao meu amigo poeta: Thiago Azevedo que convidou-me à colaborar em seu blog http://www.descansodaalma.blogspot.com com meus poemas e reflexões e que ainda me proporciona a alegria de sonhar um pouco mais alto até um dia, quem sabe, ter um livro em minhas mãos.
Caminharemos juntos e aprenderei com você, amigo, à possuir tão nobre coração sensível que jorra poemas que tocam em nossa alma acariciando-a como se acarecia um bebê.
Eu com um pézinho aqui e outro no Descanso da Alma...
Deus nos abençoe.