sábado, 27 de novembro de 2010

Contra-mão

Rasgo-me aqui...
Não. Não pense que é fácil reconhecer um erro...
Não pense que é fácil assumir a miserabilidade que habita em mim...
Não, você não sabe!
A minha gratidão escondeu-se no calabouço, enquanto minhas atitudes e palavras feriam quem lutou por mim.
Sou indigno, miserável e mesmo assim, fui amado!
Caminhamos lado a lado em um curto tempo mas alcançamos uma intimidade que, talvez em anos não teria facilidade de fazer com outra pessoa.
Sempre fui rude, impetuoso, forte no temperamento e ao andar com Ele meu coração estava sendo moldado sem que eu percebesse.
Ele compartilhava comigo e outros amigos meus, seus sonhos e desejos. No início, tudo era muito difícil, impossível de acreditar mas com meus próprios olhos vi o que se eu não tivesse visto, talvez não fosse acreditar.
Vi muitos milagres acontecendo atráves dEle e uma multidão O seguindo aonde quer que fosse.
Mas não é sobre isso que quero falar. Quer dizer... De fato, pra mim é um milagre não realizado em alguém mas em mim.
É... é dífícil se abrir...
Tá díficil expôr o que me causou tamanha vergonha...
Em uma noite em especial Ele decidiu lavar nossos pés. Não aceitei no início. Achei um absurdo. Meu orgulho saltou pra fora na velocidade da luz. Pacientemente, Ele olhou em meus olhos e disse que se eu não aceitasse aquele simples gesto não teria parte nEle. Meu coração quase parou e O permiti lavar meus pés.
E é daqui pra frente que sinto vergonha de mim...
Nos momentos finais de Sua vida eu falhei, eu errei, eu decepcionei.
Ele pediu pra que vigiasse. Eu dormi...
Ele estava aflito. Eu, triste...
Ele jorrava suor e sangue. Eu dormia...
Um dos nossos O traiu e eu me achando o melhor quis arranjar uma boa briga. Decipei a orelha de um soldado e Ele imediatamente a reconstruiu e aos soldados se entregou.
Prometi... Eu prometi que estaria com Ele até o fim... Falhei. Menti. Decepcionei.
Levaram-no pelo caminho da morte e a multidão fazia festa.
Trataram-no como assassino e Ele ficou quieto.
Perguntaram-me se eu O conhecia, não pensei e disse que "não".
Não.
Não.
Não..., o galo cantou!
Seus olhos encontraram os meus. Senti raiva de mim.
Senti vergonha, senti angústia... Chorei.
Seus olhos encontraram os meus. Recebi amor.
Seus olhos encontraram os meus. Recebi perdão.
Seus olhos encontraram os meus. Recebi a graça.
Ele poderia ter me chamado de "judas". Não o fez!
Ele poderia apontar todos os meus erros e defeitos. Não o fez!
Ele poderia me abandonar, vingar-se. Não o fez!
Ele me amou sabendo que eu falharia.
Ele me amou sabendo quem eu era.
Ele morreu e uma parte de mim se foi com Ele.
Pensei em desistir de tudo e fui à praia pra recomeçar a vida. Lembra do milagre que havia dito agora à pouco?
Pois é, vou lhe contar rapidamente o milagre que Ele realizou em mim.
Sem que eu visse com meus olhos Ele lançou todos os meus erros no "fundo do mar" e dali jamais voltaria à superfície.
Olhou em meus olhos e fez a mesma pergunta três vezes. Que dor senti...
Tratar uma ferida aberta dói e Ele cutucou onde ainda estava inflamado.
- Você me ama?
- Sim, te amo!
- Você me ama?
- Sim, te amo!
Silêncio...
Olhos nos olhos. Em Seus olhos havia graça, nos meus vergonha:
- Você me ama?
- Sim, eu te amo. Você sabe tudo!
Pensei que seria a última página da história, mas Ele é excelente em tudo que faz e só estava começando a escrever...
O vento soprou, a página virou e Ele me fez um novo homem.
Sim... Ele despedaçou-me com a verdade e amor e reconstruiu-me com a verdade e amor.
Ah! A graça e a misericórdia estavam presentes de mãos dadas o tempo todo.
Eu o traí. Ele me amou.
Eu o neguei. Ele me amou.
Eu o decepcionei. Ele me amou.
Eu errei. Ele me perdoou.
Ele era o próprio Deus. Eu era o Pedro, o pecador.

sábado, 20 de novembro de 2010

A noite é do poeta

O sol adormeceu desmanchando a aquarela no céu para dar passagem a lua que caminhava com sutileza e elegância até chegar ao seu lugar...
Ele a aguardava na janela com sua caneta e folhas em branco nas mãos.
Seu coração sempre pulsava mais forte quando ela chegava.
Sua alma unia as letras dentro de si e os versos surgiam como uma pequena nascente que brotava em cada inspiração.
Sempre afirmaram que a lua era dos apaixonados mas ele sabia que os poetas já haviam sido capturados primeiro por sua beleza e mistério.
A lua postou-se como uma princesa ornamentada de diamantes à sua volta. O tapete aveludado por trás dava o toque final no cenário.
Ele conversava com a lua como se fosse capaz de ouví-la e sorria para as estrelas a cada piscada que lhe presenteavam.
Alguns o menosprezavam por não ter um grande amor e debochavam dele, constantemente, dizendo que se um poeta não tivesse uma musa para se inspirar não era poeta, só um "qualquer" escritor.
Ele sabia perfeitamente que o amor não cabia em nenhuma caixinha de limitações. Ele era apaixonado pela vida e por tudo que ela lhe oferecia.
Sentia pena e não ódio dos que riam dele...
Sua sensibilidade era nobre demais para se deixar manchar por ofensas sem motivo.
A cada olhar deslumbrante aos céus se sentia capturado pelo mistério que envolvia aquela escuridão com pequenos pontos de luz...
Há coisas que não podem ser explicadas... Só sentidas!
Ele olhou para a folha em branco e ao olhar pra caneta sentiu que os versos não podiam resistir mais a prisão de sua alma e escorregaram por seus braços e dos braços aos dedos e desaguaram na folha levemente, sem alardes, silenciosamente, refrescando a folha como as águas de um rio em correnteza...
Poetas amam a noite como a noite ama os poetas.
É um elo forte de cumplicidade, segredos...
É um amor que se derrete em versos.
Porque o amor não tem limites.
O amor nos torna livres. E ele, o poeta, o era!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Quero lhe dar uma rosa


Quero lhe dar uma rosa
Pétalas feitas de carinho
De todas as cores mescladas
Aromas que refrescam a alma.

Quero lhe dar uma rosa
Pra sentir meu abraço
O meu beijo em sua face
Meus dedos entrelaçados aos seus.

Quero lhe dar uma rosa,
Que perdure o portal do tempo
Que exale amor pra sempre
Que traga brilho aos seus olhos.

Quero lhe dar uma rosa
Pra ser cultivada com cuidado
E os espinhos ao ferirem
Produzam um laço mais forte.

Quero lhe dar uma rosa,
Uma rosa pequenina
Simples e graciosa
Meu gesto, meu carinho...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Quer brigar? Cai pra dentro...

Olhares altivos...
Lábios cerrados...
Alma aflita...
Coração revoltado...
E aí? Vai encarar?
Tão fácil pagar o mal com o mal...
Tão fácil é agredir seja verbalmente ou fisicamente...
Tão fácil querer arranjar uma confusão pra provar que é melhor que o outro, pra debochar, menosprezar...
Como é fácil mergulhar no ódio já que a falta de paz começa dentro de um corpo feito de pele, músculos e ossos...
Tudo é motivo pra briga. Das coisas mais banais surgem as grandes discussões e ofensas...
O erro sempre está no outro. A falha é do outro. Quem tem que se humilhar é o outro...
Nos dias de hoje, o amor é "cama"; a amizade, um jogo de interesses.
Sem motivos a vida humana é destruída.
Sem motivos não há vencedores, só perdedores de alma e coração.
Como é difícil fazer o bem...
Como é difícil sorrir nos dias de hoje. Dar bom dia, olhar nos olhos ao conversar, sentir a dor do outro e tomar essa dor pra você, chorar ao lado de quem perdeu tudo e já não tem mais nada...
Como é difícil estender a mão pra quem já, um dia, levantou a mesma contra você...
Como é difícil sorrir com mansidão pra quem despejou as palavras afiadas contra seu coração...
Como é complicado você amar quando é tão mais fácil odiar...
Lutar contra a grosseria, olhares fuzilantes, palavras agressivas, gestos estúpidos... Não! Não é fácil.
Ao erguer muralhas de amor, levantamos muros de proteção...
Ao desejar um abraço amigo, corremos para as grutas da solidão...
Ao caminhar pela trilha da paz, encontramos a encruzilhada da ilusão...
O que fazer? Como resolver?
Eu escolho pagar o mal com o bem. Começando de mim pra comigo mesma e contagiando aos que vivem ao meu redor até que o bem, de fato, prevaleça!
Essa é a guerra diária, luta incessante que devemos travar todos os dias.
Começando por nós mesmos até que possamos fazer a diferença!
Não! Não é fácil mas é a escolha que faço!
Quando pequena, escutava uma canção infantil que dizia: "A melhor oração é amar!"
"E a paz que excede todo entendimento guardará os nosso corações..."
Deus nos abençoe!