domingo, 27 de fevereiro de 2011

Uma pequena graciosa Graça

Ela era um pequena menina graciosa!
Era sorridente, amorosa, brincava sempre com seus amigos imaginários e quando tinha a oportunidade de brincar com um amigo real o tratava como se fosse um nobre anfitrião num palácio majestoso.
A pequena era muito observadora e sentia algo apertar o seu coração ao ver a mãe sempre cansada, com um semblante pesado e com um comportamento que não queria que sua filha imitasse jamais.
Quem iria imaginar que a pequena Graça era filha de uma "mulher da vida"?
Gracinha, como era chamada, amava pentear os cabelos de sua mãe, tocava em seu rosto com cuidado ao desejar fazer uma quase "maquiagem" numa tela sem vida a sua frente.
Gracinha fazia de tudo para chamar à atenção de sua mãe: cantava com sua doce voz músicas que ela inventava, dançava nas pontas dos pés imitando bailarinas e sempre dava um jeito de contar uma história ao encontrar um livro num canto qualquer pra mostrar a mãe o quanto progredia na aprendizagem de ler e escrever.
Gracinha não sabia que sua mãe era prostituta mas sabia que sua mãe não era feliz e não conhecia o amor.
Havia muitas questões em sua mente mas a mãe da pequena parecia nunca ter respostas pra dar; afinal, não se pode dar uma resposta que não se conhece... Ela também era analfabeta!
A pequena menina encontrou uma folha jogada no canto da sala perto da janela. Provavelmente, alguém jogou o papel ali. Gracinha leu cada linha com os olhos arregalados e perguntou a mãe:
- Eu acho que a senhora pode conhecer o amor, mamãe... Pode sim! Pode sim!
A mãe não deu importância e continuou comendo a refeição que parecia sem sabor em seu prato.
A pequena Gracinha deu dois pequenos pigarros e começou a ler. Quando chegou na frase: "Quem não tiver pecados que atire a primeira pedra!" Gracinha, olhou pra sua mãe e disse:
- Essa é a parte mais emocionante, mamãe!
Ela continuou a leitura: "Do maior ao menor, todos se foram e o Homem olhou nos olhos da mulher adúltera e disse: 'eles não te condenaram; nem eu a condenarei. Vai e não peques mais!"
-Mamãe! Mamãe! Esse homem foi amigo dessa mulher.... Ele não deixou que ela fosse assassinada. Só pode ser amor de amigo. Não é mamãe?
A mãe de Gracinha tinha seus olhos marejados e seus lábios balbuciaram palavras que a pequena não pôde entender...
- Mamãe, vamos encontrar esse Homem? Ele pode fazer a senhora feliz!
A pequena Graça não havia reparado que durante a sua leitura o Homem já estava batendo na porta do coração de sua mãe e o amor que a filha desejava dar de presente chegara em boa hora.
Depois de alguns dias, a mãe havia morrido por causa de uma "pneumonia" e outras complicações e a pequena Gracinha foi espalhar a "Graça" que encontrara no orfanato onde habitavam crianças com HIV.

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