quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Doce água... Água amarga...

Sua correnteza era gentil e delicada
Em suas margens, arbustos e flores se deliciavam com o frescor
Límpida e doce abrigava seres que se desmanchavam de prazer em seu regaço
Sua dedicação com quem estava ao seu redor era de uma coragem indescritível

- O que é aquilo?

Algo ou alguém se aproximava
Mas tudo que se podia ver era um vulto
Aparentemente, parecia inofensivo
Pobre rio...

Pobre rio...

Anoiteceu e o vulto se aproximou mais
A lua minguante tentou ajudar com a sua luz fraca
Mas a escuridão parecia vencer
Sentado na margem, repousou alguma coisa no rio

Riu e se foi...

Água outrora doce, agora amarga
Água pesada, água suja

- Quem poderia ser tão cruel?

Os pássaros já não cantavam mais
As borboletas fugiram
Os beija-flores deixaram de enamorar as pétalas
E o rio conheceu o desprezo e a solidão

Nenhum rio pode sujar a si próprio
A maldade das matas conseguiu avançar em suas margens

A vida se transformou em morte
A doçura num amargo sem fim
A leveza se tornou em um peso jamais visto

Rejeição
Dor
Indiferença
Solidão

Quem pode culpar o rio pelo que lhe aconteceu?

Quem pode arregaçar as mangas e limpá-lo?

Todos que antes usufruíam de seu frescor agora meneiam a cabeça
A tristeza roubou as cores e o brilho do dia

Pobre vulto que mais tarde ao observar que sua atitude era mesquinha e arrogante
Percebeu que tirara a vida de quem tanto lhe ajudou e lhe refrescou

O rio já não era o mesmo
O vulto? Ninguém mais o achou...

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Devolução

Era só uma garota com seu cabelo preso em um rabo de cavalo, olhar triste, presa no seu silêncio mas sempre observadora e cuidadosa.
Nunca negou ajuda a quem quer que fosse mesmo quando não tinha nada pra oferecer. Suas mãos sempre estavam estendidas.
Colecionava as decepções dentro de um saco plástico e jogava no fundo da gaveta da cômoda de seu quarto e não gostava de mexer ali.
Sempre sentia dor...
Reservada diante das pessoas... Observava olhares, modos de falar e gestos.
No fundo ela sabia em quem podia confiar e de quem deveria se afastar.
Seus amigos não preenchiam sequer apenas os dedos de uma única mão.
Mas era duro acreditar no que seus olhos viam...
Fingia não ver porque anestesiava, de certa forma, a pontada que sentia em seu coração.
As folhas das árvores voavam nos braços do vento e o tempo não dava tempo para despedidas.
Foi quando percebeu que o saco plástico que havia guardado há tempos na gaveta já não cabia mais nada.
Encheu o pulmão.
Soprou o saco plástico.
E já não havia mais nada: nem decepções guardadas, nem saco plástico, nem silêncio guardado.
Era a hora de colocar um fim naquilo que a fazia sofrer e não fez de seu coração um depósito de lixo.
Antes rejeitava o que ofereciam embrulhado em papel de seda porque por fora a beleza não escondia o mal cheiro do que estava guardado.




segunda-feira, 4 de novembro de 2013

São esses detalhes que fazem a diferença...


Nada é tão gratificante quanto estender a mão e ajudar a quem precisa
Nada é tão irritante quanto estender a mão e perceber o abuso de quem finge precisar

Nada é tão gratificante quanto caminhar duas milhas ao lado de quem pediu para caminhar somente uma
Nada é mais irritante do que caminhar ao lado de quem te convidou a "trilhar" e você percebe que continua caminhando. Sozinha!

Nada é tão gratificante quanto ser honesta e se contentar com o que tem
Nada é mais irritante do que a desonestidade trajada de "coitadismo"

Nada é tão gratificante quanto o respeito e a lealdade
Nada é mais irritante do que a falsidade e a mentira

O tempo passa e viver os valores e princípios aprendidos com nossos pais parecem nos fazer andar fora da moda
O "legal" é ser o que todo mundo é e fazer o que todo mundo faz

Coragem é dar braçadas na correnteza contrária
Autenticidade é visto em poucos

Sorrisos não compram confiança
Elogios não são moedas

Nada é tão gratificante do que ser grato e demonstrar em gestos e atitudes
Nada é tão irritante do que ver a ingratidão e a língua jorrando veneno

Esquecem que o veneno pode ser engolido por quem o produz

Porque apesar dos pesares eu ainda escolho nadar contra a maré...

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Meus pequenos eternos instantes de felicidade...

Ouvir sua sobrinha de 2 aninhos gritar no meio do cinema que te ama e que vai no banheiro fazer pipizinho mas não demora...

Ver os olhos brilhando do seu sobrinho de 8 anos ao ser surpreendido com um presente, embora muito simples; mas que proporcionará momentos de boas bagunças com a tia doida...

Recordar a época de infância quando a sua mãe levava você na padaria e comprava um guarda-chuvinha de chocolate...

Recordar a época de infância quando seu pai ficava roxo de vergonha quando você dava beijocas nas bochechas dele e fazia sons em sua barrigona caindo na risada...

Quando na infância você se trancava no quarto e ouvia música dançando escondido e fazendo cenas olhando no espelho imaginando ser uma atriz de televisão...

Recordar a época de escola quando você fazia parte do grupinho de excluídas e montava um cover da banda que você curtia e ficava cantando e dançando na hora do recreio...

Ver os olhos do meu pai formando uma nascente ao ser surpreendido com uma festa surpresa...

Sentir o abraço demorado da minha mãe no momento que mais preciso de colo...

Recordar quando ninava os sobrinhos com canções inventadas só pra se perder nos olhinhos deles enquanto lutavam pra não dormir...

Ah! Tantos pequenos instantes tão eternos na memória...
Tão eternos no coração...

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

No alto de uma pedra

Lá estava ela sentada no alto de uma pedra.
O vento soprava levemente brincando com seus cabelos e beijando a sua face tão alva.
Seus braços abertos como se quisesse receber o abraço de um Ser invisível, porém, tão real pra ela.
Seus olhos estavam fechados e as lágrimas procuravam um caminho para correr em seu rosto.
Sua alma sentia dor, seu espírito clamava por um refúgio, sua carne desejava somente ser aquecida pelo amor.
Longe, lá longe... Ouvia-se a voz do mar...
Era uma voz rouca, forte e ao mesmo tempo alentadora.
Suavemente seus braços repousaram em seus joelhos e num sussurro fez uma prece:
"Ainda que a noite se torne dia...
Ainda que o dia se torne noite...
Ainda que falte as palavras...
Ainda que falte as forças...
Ainda que falte a fé...
Ainda que falte a esperança...
Ainda que eu desfaleça...
Uma coisa peço: Não permita que eu não veja um novo amanhecer.
E o dia será dia.
E a noite será noite.
E o sono será leve.
E a esperança brotará, vivificará com mais força."
Um soluço foi seu amém.
Seu coração já não estava apertado.
Ela sabia que Ele jamais a abandonaria mesmo que ela não o sentisse e nem O percebesse.
Sempre existiria um lugar em Seu coração para receber quem já não tinhas forças pra caminhar...

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Preciso de água


Ninguém se preocupou em regar a terra
Sequer olharam para mim e ouviram meu grito de sede

A terra está seca
Minha garganta ressecada

Meus olhos já não produzem lágrimas
Minhas pétalas perderam sua cor e perfume

A beleza se perde no deserto
Sol e vento são companhias constantes

Não ouço mais o canto das crianças
Que com risadas e danças sacudiam a grama

Já não há mais borboletas
Pra onde foram os beija-flores?

Nenhum olhar pousa em mim

Já não sinto o toque em meu caule
Espinhos já não tenho mais

Ninguém se preocupou em regar a terra
E sem vida, o jardim já não é mais

A minha prece é simples como de um solo sertanejo
"Pai, abre as portas do céu e molha-me lavando e levando toda a areia que me sufoca."

Uma pequena nuvem surgiu...
Uma gotinha fresca caiu...
A esperança vivificou...
Amanhã estarei aqui.
Colorida
Perfumada
Viva

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Desnuda vergonha



Sempre tive dificuldades de dizer sobre as coisas que eu não sabia realizar, dos medos que sentia, das dúvidas que escondia...

Não sou de falar.

Sou reservada, tímida e observadora.

Observo o que ignoram.

Mas... Enfim.

Fiquei feliz em descobrir que não sou a única no mundo que não anda de bicicleta, que tem pavor do mar, não sobe em árvore, não pula janelas ou muros...

Eu? E.T.? (rsrsrsrs)

Pode ser! Mas e daí?

Qual o problema em não fazer o que todo mundo faz?

Qual o problema em não agir como todo mundo age?

Qual o problema em ser o que ninguém é?

Tinha muita dificuldade em dizer porque sempre era julgada.

Mas e daí que me julguem?

Nada disso muda quem sou?

Minha história quase ninguém conhece! E não tenho intenção de contar.

Tiro a roupa da minha vergonha e despido a minha alma.

Não por inteiro...

Há coisas que se devem guardar.




sábado, 6 de julho de 2013

Porto Seguro


Preciso de um porto seguro
Que receba meus medos e os converta em coragem
Preciso de um porto seguro
Que receba minhas tristezas e as transforme em sorrisos

Preciso de um porto seguro
Que receba meu silêncio e me ofereça braços acolhedor
Preciso de um porto seguro
Que entenda as minhas inseguranças e fortaleça meus passos

Preciso de um porto seguro
Que seja humano, carne e osso

Preciso de um porto seguro...

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Não marcou a hora de chegada...


Ela não diz a hora em que vai chegar...
É tão tempestuosa a sua vinda que a surpresa que nos causa é arrebatadora.
Parecia mui pequena, distante
Mas lá estava ela...
Tão perto!

De repente faltou o chão pra pisar
O fôlego parecia ter evaporado
O medo tomou conta
A incerteza do amanhã já era hoje

Sua força parecia romper com a fragilidade
Sua crueldade parecia lançar fora toda a esperança
Mas o que parecia eternidade durou apenas algumas horas
E assim como não marcou a hora em que chegaria
Também se foi sem avisar

quinta-feira, 9 de maio de 2013

A língua

Imagem: Google


Sou feliz pelos amigos que tenho.
Um deles sofre pelo meu descuido com o vernáculo.
Por alguns anos ele sistematicamente me enviava missivas eruditas com precisas informações sobre as regras da gramática que eu não respeitava, e sobre a grafia correta dos vocábulos, que eu ignorava.
Fi-lo sofrer pelo uso errado que fiz de uma palavra.
Acontece que eu, acostumado a conversar com a gente das Minas Gerais, falei em "varreção" - do verbo "varrer".
De fato, trata-se de um equívoco que, num vestibular, poderia me valer uma reprovação.
Pois o meu amigo, paladino da língua portuguesa, se deu ao trabalho de fazer um xerox da página 827 do dicionário, aquela que tem, no topo, a fotografia de uma "varroa" (sic!) (você não sabe o que é uma "varroa"?) para corrigir-me do meu erro.. E confesso: ele está certo.
O certo é "varrição" e não "varreção".
Mas estou com medo de que os mineiros da roça façam troça de mim porque nunca os vi falar de "varrição".
E se eles rirem de mim não vai me adiantar mostrar-lhes o xerox da página do dicionário com a "varroa" no topo. Porque para eles não é o dicionário que faz a língua. É o povo. E o povo, lá nas montanhas de Minas Gerais, fala "varreção" quando não "barreção".
O que me deixa triste sobre esse amigo oculto é que nunca tenha dito nada sobre o que eu escrevo, se é bonito ou se é feio.
Toma a minha sopa, não diz nada sobre ela, mas reclama sempre que o prato está rachado.
Texto: Rubem Alves
Livro: Ostra feliz não faz pérola


quarta-feira, 8 de maio de 2013

Não deu...


"Os olhos tentam ninar a lágrima...
De tanto embalá-las
Caem!"

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Aquarela




Lá fora o céu é triste e nostálgico...
As nuvens parecem carregar tanta dor que já não hesitam em deixar suas lágrimas cair.
As flores perderam suas cores e o aroma do jardim fugiu...
Os pássaros não cantam, as borboletas não dançam,
O vento não tira os galhos, outrora floridos, pra dançar...
O beija-flor já não beija as rosas,
O silêncio da noite invade o dia.
Quem levou o amor embora?
Quem roubou a alegria da viver?
A lua já não é dos poetas,
As estrelas já não piscam mais,
As nuvens que brincavam comigo quando era menina,
Já não montam minhas fantasias de bichinhos antes tão reais...
Quem levou o amor embora?
Quem roubou a alegria da viver?
Onde estão as rodas de amigos,
Que com violão enchiam a noite de canções?
Onde estão os versos de amor
Que com carinho e afago acariciava o coração?
Por que roubaram a pureza?
Por que destruíram a inocência?
Por que levaram embora os nossos sonhos?
Por que jogaram fora nossa esperança?
Seria a morte mais forte que a Vida?
Que silêncio é esse que deseja habitar aqui?
Alguns passos são ouvidos e a porta se abre lentamente,
Em uma de suas mãos estavam os pincéis e na outra uma grande tela.
Emudecida ali fiquei observando o Artista.
Montou no canto da sala vazia todo o Seu aparato,
E na tela vazia fez seus primeiros traços.
Dos traços vieram espaços vazios e de vazios coloridos ficaram.
As cores deram vida ao que não existia e o que não se imaginava ali estava...
Olhei pela janela e emudeci...
Lá fora o cinza mesclava ainda em si...
O Artista olhou em meus olhos e sussurrou em meus ouvidos:
Seu coração já não está mais vazio,
A minha essência foi pintada em você.
Olhei pro meu peito e não eram só as cores que haviam ali,
Notas músicais e versos brincavam dentro em mim.
Uma alegria surgiu de mansinho e a tristeza de outrora teve um fim.
O Artista tomou minhas mãos nas Suas e disse que eu poderia escolher:
Ter um coração pintado de aquarela ou conviver com o triste preto e branco.
Minhas lágrimas dançaram lentamente pela face e senti meu coração bater mais forte.
Quem pode viver sem as cores e a canção da vida?
Escolho a aquarela,
Sua essência quero ter em meu ser.
Ouço o riso das crianças e a canção dos jovens...
A Vida habita em mim e nela encontrei o meu lugar!

***

Escrevi esse texto em 2010.
Ele está registrado no blog do meu maninho "Thiago" do Descanso da Alma.
Senti saudades e postei aqui...
Espero q esse texto, de alguma forma, fale ao seu coração. =)

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Amor velho

Ela o aguardava ansiosamente acompanhada pelo tic-tac do relógio velho na parede.
A janela estava aberta e as cortinas dançavam no ritmo da brisa que soprava levemente.
A porta encostada pra anunciar que a presença dele não precisaria de formalidades...

A antiga vitrola tocava um vinil que trazia a lembrança de um tempo gostoso vivido.
O ar estava leve...
O entardecer, uma verdadeira aquarela.

Um perfume exalava em cada cômodo da casa e o vaso de cristal colocado na mesinha do centro da sala dava um toque de beleza.

O portão se abre e o coração dela acelera...

Uma pontada de insegurança brota quando percebe que os passos se aproximam.

Ela queria fugir e ao mesmo tempo correr para os braços do seu grande amor.

"Será que estou bonita?" - ela tenta se ver no espelho...

As mãos dele encobrem os seus olhos e um sussurro é pronunciado ao pé do ouvido:

"Não esqueci! O amor que brotou naquele dia ainda floresce, hoje, querida...."

Uma lágrima escapa dos olhos dela.

Ele a toma em seus braços, beija os lábios dela com o cuidado como se fossem sagrados e as rugas só provaram que o tempo não envelheceu o amor... Amadureceu!

quinta-feira, 14 de março de 2013

Toca uma canção pra mim?


Quando perceber que estou quieta
Que o dia está nublado
Que a esperança está por um fio
Toca uma canção pra mim?

Quando ver que estou calada demais
Que o meu silêncio está gritando
Que há uma nascente nos meus olhos
Toca uma canção pra mim?

Quando o inverno for intenso
O outono, nostálgico
E as estações trocadas
Toca uma canção pra mim?

Talvez, as notas musicais chamem minha'lma para dançar
Talvez, um sorriso brote sem eu esperar
Talvez, me sinta livre para voar
E mesmo que nada disso aconteça
Toca uma canção pra mim?


domingo, 10 de março de 2013

Conselhos de Lizzie para Ana Cristina


Sentada sobre o lençol ela permanecia compenetrada na leitura do livro que tinha nas mãos, não percebeu que ele aproximou-se devagar.

- Bom dia senhorita, poderia me indicar um local onde possa passar uma noite, nessa agradável cidade?

- Deveria perguntar aos guardas do parque. – respondeu sem erguer os olhos.

- Sinto muito. É que estou há algum tempo a observá-la e não resisti em me aproximar. É uma das criaturas mais adoráveis que meus olhos já tiveram a oportunidade de observar.

- De onde o senhor saiu?! Disse já aborrecida por alguém interromper-lhe o passatempo. – Oh! Mil perdões, Sr. Darcy não imaginei que seria o senhor! Mas, espere! O que faz aqui, em meu mundo?! Ou melhor... o senhor é um personagem de livro, não existe!

- Desculpe discordar de tão encantadora senhorita. Poderíamos estar conversando se eu não existisse?

- Ainda não perdi o juízo. Recuso-me deixar enganar pelas loucuras de minhas divagações. O senhor está preso ao campo da ficção literária e não há nada no mundo que me diga ao contrário.

- Mais uma vez terei que discordar, espero que esse não se torne um hábito entre nós, porque temos muito a conversar.

- Não, não me deixarei levar por essa loucura!

- Está bem. Digamos apenas que eu seja como diz, fruto de uma extraordinária mente humana, porém essa mente é a mente de uma mulher. Então se sou fruto da sensibilidade de uma mulher, por que não poderia saltar daquela, para essa mente: a sua?

- Confesso que em meus mais íntimos e profundos sentimentos o imaginei como está nesse momento.

 - Pois tenho que dizer que foram exatamente esses desejos que me trouxeram hoje aqui.

- Desisto de resistir. Pode me dizer com que propósito veio até mim?

- Sim, claro – respondeu prontamente. Elizabeth enviou-me.

- Elizabeth?!  Como?!  Vai me dizer que ela está por aí também?!

- Não. Minha Elizabeth apenas sentiu suas necessidades. Embora desconheça, vocês são semelhantes em tudo. Não duvidaria se descobrisse que são irmãs.

- Eu?! Parecida com Elizabeth!? Não quero parecer grosseira, mas o senhor enlouqueceu.

- Sim, muito parecidas. Você, como ela, dispensou o melhor de si para seus pais e família. É dedicada ao que acredita. Tem paixão por livros e romances. E, tal qual Elizabeth, espera viver o amor que lhe arrebate a alma. Nasceu para viver esse amor, embora duvide que lhe seja devido. Não me demorarei mais, aqui está.

Ela estendeu a mão e pegou o envelope com seu nome. Então abriu-o e desdobrou o delicado papel, que dizia:

Prezada Ana Cristina,
Imagino que nesse exato momento, os adoráveis olhos verdes de meu doce Darcy estão postos sob sua figura ímpar.
Não posso deixar de mencionar que há tempos sinto suas emoções vibrando de forma tão intensamente pura, que lhe inflamam a alma.
Queria poder entregar-lhe pessoalmente esta mensagem, mas duvido muito que preferiria minha presença a de Darcy, afinal, sei bem do que são capazes de provocar seus magnéticos olhos. Fique tranquila, não me sinto enciumada do ardor de sua consideração para com ele, tanto que o incumbi da missão de entregar-lhe essa mensagem.
Tina, ame. Ame como se disso dependesse o renovar de seu fôlego de vida. Nem mais, nem menos, apenas o que bastar para que o néctar da vida permaneça inalteradamente apreciado por você. Porém, não se deixe levar pela interminável lista de tarefas, elas lhe roubam o apreciar da existência. Pode ser que seu Darcy a esteja observando. Tentando lhe atrair a atenção, e quem sabe seu aparente descaso, o faça sentir desprovido de atributos para estar ao seu lado.
Busque tempo para namorar a natureza, respirar o ar puro, sem estar atrelada a infinitas responsabilidades.
Escreva. Escreva muito, sobre nada, sobre o tudo, sobre o cheiro das coisas, sobre a ausência de afeto, sobre a carência do mundo. As pessoas precisam de suas falas, de suas palavras, de sua sensibilidade. Ao escrever, você lhes empresta a magia da existência que só podem ser vistas pelos seus olhos.
Se tiver que chorar, não chore por sentimentos passados, muito menos por situações ainda não vividas. Chore para libertar a alma, chore pela emoção de uma prece, chore ao ler uma poesia.
Inspire as pessoas que estão ao seu redor, e lhes permita inspirar-te.
Enfim, creia. Creia por si mesma, creia pelos Escritos Sagrados, creia por meio dos que te são iguais, assim terás uma fé pura, isenta de dogmas doutrinários e fadada a ser apenas barulho, destituída de efeitos práticos.
No mais, suspire ao ler minha estória, se emocione ao lembrar-se de Darcy, e abra bem os olhos, tão certo como encontrei meu Darcy, em algum lugar, muito mais perto que imagina, seu Darcy a observa e quer se achegar!
De quem te estima,
Elizabeth.

Com os olhos marejados, ergueu-os em direção ao seu mensageiro, mas Darcy havia sumido, e seu livro também. Ana Cristina não podia acreditar, mas ainda segurava a carta em suas mãos.

Ergueu-se e dirigiu-se para casa, a pensar se tudo não passara de um sonho, mas a carta não deixava dúvidas de que de alguma parte, Elizabeth enviara Darcy para lhe abrir os olhos ao amor.

Noh Oliveira

***
Esse é um presente que ganhei do Meninas do Reino hj, no meu aniversário.
Emudecida e emocionada só posso agradecer a Deus por me presentear com amigas que só me enriquecem com suas amizades e me ajudam a ser uma pessoa melhor.
Meninas, amo vcs, filhotes: Noh, Andréa, Di Luz, Roberta, Simone, Carlinha, Luciana, Simone e Nina

terça-feira, 5 de março de 2013

Não aprendi a voar


Nasci dentro de uma gaiola
E depois de tanto tempo
A porta se abriu

Senti medo...

Mesmo tendo asas
Nunca aprendi a voar


sábado, 2 de março de 2013

Casa vazia




O ano voa...
A casa que outrora tinha vozes, sombras 
Hoje é só uma casa vazia

Vazia de abraços
Vazia de beijos
Vazia de risos
Vazia de conversas

Depois de um passeio
Quem espera na porta é a maçaneta
Um nó na garganta
Uma dor no peito
Um sonho buscando adormecer
E a casa continua vazia

Passa um dia
Passa um mês
Passa um ano
E a casa tá vazia

Mas uma esperança, ainda que pequena brota...

O som é ligado
As janelas são abertas
As plantas são regadas
E uma prece é feita

A casa está vazia
Mas eu ainda estou repleta!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013



Nada ao redor
Nada lá fora
Nada aqui dentro

Silêncio
Nó na garganta
Corpo cansado
Lágrimas em ensaio
Palavras emudecidas

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Amar dói



Não tem jeito...
Quem ama sente dor!

Amar e sofrer são as pegadas deixadas na trilha da vida
Lágrima é a noite do deserto
Sorriso é o dia 

Não tem jeito...
Quem ama sente dor!


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Eu, o restaurante e os engraxates



Texto: Valdir Joaquim

Hoje, eu estava começando a almoçar, quando, de repente, dois meninos entraram no restaurante. Dois negrinhos de rosto perfeito e de pés bastante judiados, menos do que os chinelos que simulavam vestir, tal a folga que tinham.

Um pequeno pânico pôde ser percebido nos olhares das pessoas. O caixa saiu correndo para espantá-los enquanto o dono chamava o segurança lá fora falando pra eles que ali não podiam entrar. Os meninos, meio indiferentes, meio assustados, vieram certeiros na minha direção e disseram, sob os olhares de todos que largavam seus garfos e olhavam para nós: “Posso engraxar seu sapato?”

Quando eu ia responder, o dono, o caixa e o segurança disseram a uma só voz: “Aqui não pode”. Não sei o que deu em mim. Num reflexo, saí da cadeira, tirei meus dois sapatos no meio de todos, entreguei nas mãos dos meninos e falei pra engraxarem lá fora e depois me devolverem. Eles pegaram e saíram. Então, pude ouvir perfeitamente algumas vozes dizendo: “Vai ficar sem os sapatos”.

Continuei comendo calmamente, mas percebi que eles estavam demorando. E demoravam. E eu já estava terminando de comer. Na hora, desejei sinceramente que eles levassem meus sapatos. Já me imaginava indo embora andando de meias, coisa que eu adoro fazer. Além disto já via a cena dos meninos chegando em casa e dando os sapatos para seu pai e me chamando de tonto. Isto não me incomodava, comecei a desejar, queria causar. Aqui é Corinthians! Porém, se isto acontecesse, se confirmaria a suspeita de todos sobre os meninos. Então comecei a querer que eles voltassem. Queria que as pessoas refletissem sobre estes estereótipos em que se acredita doentemente.

Afinal eles voltaram, me cobraram R$ 3,50 pelo serviço. Paguei R$ 7,00 e passei a mão nas suas cabeças. Enquanto ia embora, virei pra trás e falei bem alto: “É muito bom frequentar um restaurante com serviço de engraxate, parabéns!” E fui embora zombando desta vida tão pequena.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Eu e o meu coração em uma guerra constante...



Travei uma dura guerra contra o meu coração.
Descobri que meu coração estava mais duro que uma pedra e que minhas forças estavam se esvaindo sem que eu pudesse perceber.
Como chegou a esse ponto?
Foram anos engolindo sapos, sendo decepcionada por pessoas de confiança, sendo traída por aqueles que se diziam amigos, sendo ofendida por aqueles que dizem "amar a Deus"...
Nunca perdi tempo discutindo ou revidando palavras ofensivas.
Afastar... Ficar beeeem longe é o remédio que sempre usei.
Não é fácil!
Minha fé não é abalada diante dessas situações!
Já o meu coração...
A guerra ontem foi dura e cheguei a pensar que seria meu fim.
Lutei até a última gota e graças a Deus, fui vencida!
Sim! Fui vencida.
Havia dentro de mim um desejo de vingança. Pois é! Vingança.
Pagar o mal com o mal.
Agir com raiva sem se importa se o que me fez mal iria sofrer ou ser prejudicado.
Nunca pensei que fosse sentir ódio até que há tempos, pouquíssimo tempo lançaram a semente e eu permiti que nascesse em mim essa erva daninha.
A alma geme e não há grito que resolva...
Os meus gritos são silenciosos, outras vezes, surgem em formato de lágrimas.
Dei por mim que tinha sido nocauteada com uma conversa rápida com meu pai no telefone:

- Filha, eu sei de tudo mas, mesmo assim, não devemos pagar o mal com o mal.

Senti meu corpo anestesiar...
Meus olhos encheram de lágrima.
Lá estava eu, com o meu "eu" no chão.
Fui pra cama e fiz algo que há tempos não fazia: me rasguei.
A minha prece parecia uma faca que ia rasgando de alto a baixo tudo que eu sou.
Cada palavra sussurrada era carregada de dor.
Mas fui até o fim.
Não podia parar no meio do caminho.
Meu coração ainda sofre com a cicatriz mas, estou mais leve.
Subi um degrau como se tivesse subido um pico íngreme e de uma altura quase impossível.
E nessa minha humanidade carregada de erros e falhas ainda encontro QUEM me conhece muito bem e não me julga ou aponta as minhas fraquezas mas NELE encontro AMOR.
Amor esse que me despedaça, constrange e traz a minha memória o quanto sou pequena e frágil (embora procuro sempre demonstrar ser forte).
Não sou forte...
Mas na minha fraqueza descubro que ELE é forte em mim.
E é por ELE que continuo...
E com ELE vou vivendo e aprendendo até o fim...

Quem disse que é fácil?


quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Não importa como foi o começo...


Nem todo mundo tem a chance de iniciar o ano bem...
Pra ser sincera, isso nem importa muito!

Temos 365 dias pra viver.

Temos 365 dias pra crescer.

Temos 365 dias pra sermos desafiados.

Temos 365 dias pra sermos decepcionados.

Temos 365 dias pra decepcionar alguém.

Temos 365 dias pra aprender e reaprender...

Pra chorar...
Pra rir...
Pra lutar...
Pra vencer...

Uma coisa é certa: não importa como foi o começo e sim, como terminaremos.