quinta-feira, 9 de maio de 2013

A língua

Imagem: Google


Sou feliz pelos amigos que tenho.
Um deles sofre pelo meu descuido com o vernáculo.
Por alguns anos ele sistematicamente me enviava missivas eruditas com precisas informações sobre as regras da gramática que eu não respeitava, e sobre a grafia correta dos vocábulos, que eu ignorava.
Fi-lo sofrer pelo uso errado que fiz de uma palavra.
Acontece que eu, acostumado a conversar com a gente das Minas Gerais, falei em "varreção" - do verbo "varrer".
De fato, trata-se de um equívoco que, num vestibular, poderia me valer uma reprovação.
Pois o meu amigo, paladino da língua portuguesa, se deu ao trabalho de fazer um xerox da página 827 do dicionário, aquela que tem, no topo, a fotografia de uma "varroa" (sic!) (você não sabe o que é uma "varroa"?) para corrigir-me do meu erro.. E confesso: ele está certo.
O certo é "varrição" e não "varreção".
Mas estou com medo de que os mineiros da roça façam troça de mim porque nunca os vi falar de "varrição".
E se eles rirem de mim não vai me adiantar mostrar-lhes o xerox da página do dicionário com a "varroa" no topo. Porque para eles não é o dicionário que faz a língua. É o povo. E o povo, lá nas montanhas de Minas Gerais, fala "varreção" quando não "barreção".
O que me deixa triste sobre esse amigo oculto é que nunca tenha dito nada sobre o que eu escrevo, se é bonito ou se é feio.
Toma a minha sopa, não diz nada sobre ela, mas reclama sempre que o prato está rachado.
Texto: Rubem Alves
Livro: Ostra feliz não faz pérola


quarta-feira, 8 de maio de 2013

Não deu...


"Os olhos tentam ninar a lágrima...
De tanto embalá-las
Caem!"