terça-feira, 9 de maio de 2017

Venenosa omissão

Há tempos não escrevo...
A fonte quase secou por motivos desconhecidos. Ou não...
Mas hoje, a água jorrou com força, pedindo socorro, indignada com o que foi presenciado numa pequena aldeia perdida e escondida no meio de uma cidade grande.

***

- Chamem o exército!!!! A guerra vai iniciar!!!!
- Isso é vergonhoso!? Declarar guerra contra uma aldeia tão pequena e sem condições sequer de defesa?
- Quem manda aqui sou eu!!! Estamos em grande número, minha vontade é imposta e não estou nem aí se esse bando de inúteis sofrerão ou não.

***

- Meu Deus! Olha para a minha situação!? Meu marido morreu em um acidente, minha filha me abandonou, meu filho tem transtorno mental e eu não tenho quem me ajude. Me sinto perdida, angustiada, envergonhada. Um exército se levantou contra mim e não tenho como me defender. O que será de mim e de meus filhos? Por que tanta perseguição? Por que tanta opressão?

***

- Façam o que eu digo e não o que eu faço! Me obedeçam!!!! Se eu quiser dar festas e não deixar ninguém dormim, eu posso! Se eu quiser gritar e acordar a cidade inteira, eu posso! Se eu quiser espancar, oprimir,... Eu posso! Você não! Você é miserável, pequeno, inútil, desprezível. Sua obrigação é me obedecer e fazer o que eu mando.

***

A guerra chegou...
Oprimiu o mais fraco.
Roubou seus direitos civis.
Massacrou a alma (era tudo o que tinha).
Feriu a mente ferida.
Destruiu a dignidade mínima.

***

A cidade não via o que se passava na aldeia.
Se via... Fingia não ver.
Mas o sangue inocente derramado naquela aldeia se espalhou nos boeiros da cidade. O odor era insuportável e um vírus surgiu destruindo a visão, a audição e o tato.
A cidade adoeceu.
A aldeia morreu.
E a indiferença venceu.

***

Que sejamos a voz dos que não têm.
Que sejamos os olhos dos que não vêem.
Que sejamos os ouvidos dos que não querem ouvir.
Que sejamos a mão que é estendida para socorreu e não empurrar.