Sua correnteza era gentil e delicada
Em suas margens, arbustos e flores se deliciavam com o frescor
Límpida e doce abrigava seres que se desmanchavam de prazer em seu regaço
Sua dedicação com quem estava ao seu redor era de uma coragem indescritível
- O que é aquilo?
Algo ou alguém se aproximava
Mas tudo que se podia ver era um vulto
Aparentemente, parecia inofensivo
Pobre rio...
Pobre rio...
Anoiteceu e o vulto se aproximou mais
A lua minguante tentou ajudar com a sua luz fraca
Mas a escuridão parecia vencer
Sentado na margem, repousou alguma coisa no rio
Riu e se foi...
Água outrora doce, agora amarga
Água pesada, água suja
- Quem poderia ser tão cruel?
Os pássaros já não cantavam mais
As borboletas fugiram
Os beija-flores deixaram de enamorar as pétalas
E o rio conheceu o desprezo e a solidão
Nenhum rio pode sujar a si próprio
A maldade das matas conseguiu avançar em suas margens
A vida se transformou em morte
A doçura num amargo sem fim
A leveza se tornou em um peso jamais visto
Rejeição
Dor
Indiferença
Solidão
Quem pode culpar o rio pelo que lhe aconteceu?
Quem pode arregaçar as mangas e limpá-lo?
Todos que antes usufruíam de seu frescor agora meneiam a cabeça
A tristeza roubou as cores e o brilho do dia
Pobre vulto que mais tarde ao observar que sua atitude era mesquinha e arrogante
Percebeu que tirara a vida de quem tanto lhe ajudou e lhe refrescou
O rio já não era o mesmo
O vulto? Ninguém mais o achou...
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